domingo, 31 de maio de 2009

Um niteroiense em Brasília.

Brasília, cidade de ruas limpas e avenidas largas. Diferente da desorganização predominante nas grandes cidades. Um exemplo. Um modelo. Chegando ao ministério, a recepcionista indica a direção: “Siga, pela calçada, e atravesse na faixa de pedestre”. Ela pontuou bem: “Faixa de pedestre”, mas como vou atravessa com tantos carros passando? Não há semáforo, somente a faixa e no chão e o aviso: “Dê sinal de vida”. Resolvo esperar... Quem sabe um dia consigo atravessar com segurança? De repente, duas pessoas se lançam na frente dos carros sem a menor cautela. Os carros param. Percebo que sou a única pedestre esperando para atravessar. Em Brasília o código de trânsito vale. A prioridade é do pedestre. Ao colocar o pé na faixa, os carros param para minha travessia. Agradeço como se fosse um favor ser respeitada no transito.
Não é a primeira vez venho aqui, portanto essa não é minha primeira impressão. Cidade onde tudo é distante... O calor mais frio que eu já senti. Onde cada coisa fica em um setor. Tem setor de morar, setor de comprar, de trabalhar... As esquinas não têm bares nem esquinas. Brasília à noite, vista do alto é uma verdadeira caricatura de seu próprio modelo. A separação das coisas, lugares e pessoas fica visíveis, desenhadas no mapa. Através da linda arquitetura da cidade vemos a divisão das classes. Em minha primeira visita fiquei dias remoendo idéias, mas não escrevi. Na Crônica que não escrevi, queria falar como me chocou perceber ainda do alto a segregação entre as classes. Linhas retas, quadras perfeitas. Linda cidade em formão de nave. Um pássaro gigante brilhando em seu esplendor. E ao redor, grandes manchas de luz, um amontoado de pessoas “imperfeitas” que construíram a cidade “perfeita”. No planejamento perfeito da cidade perfeita construída para ser a representação do povo não tem espaço para o povo. Desde a crônica que não escrevi rumino essa dura realidade. Sentimentos de angústia sobre a cidade que possui o calor mais frio que já senti.
Pensando bem, prefiro estar na desordem do transito em São Francisco em Niterói, esperando a vez de atravessar, sentada em uma esquina, num boteco onde esteja rolando um bom samba de roda. Boteco, melhor lugar pra se esquecer as fronteiras sociais.


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